A FREGUESIA - Mosteiro de S. Simão da Junqueira
 

O MOSTEIRO DE S. SIMÃO DA JUNQUEIRA

Em documento de 1084 pode ler-se « Ad monasterium Sancti Simeonis », para, à posteriori, em 1104 e 1109, dois documentos situarem o Mosteiro « ...subtus mons civitas Boconti, Território Portucalensis, discurrente inter Ave et Alister », isto é, junto à Cividade de Bagunte, entre os rios Ave e Este, em território portucalense.

A VIII das kalendas de Abril da Era de 1174 – 25 de Março de 1136, D. Afonso Henriques, ainda Infante, faz grande doação (1) do couto de S. Simão da Junqueira, a D. Paio Guterres « Tibi vassalo meo fideli prolis Guterris », onde se inclui o referido mosteiro e outras propriedades, para além de direitos reais.

O primeiro documento de 1084, já citado, é uma doação feita por Sugério Rauco aos seus dois filhos: Mendo e Aldora, com a cláusula de não a poderem alienar senão a favor do dito mosteiro. Testemunharam este acto o Arcediago “Arias” e os clérigos Paio Dias e cónego Paio Grosso e Dom Fafia Guterres.

Foi, assim, à sombra do Mosteiro, sob a Regra de S. Agostinho, que se desenvolveu a freguesia da Junqueira, com três fases perfeitamente distintas, a saber:

1. O primeiro período compreende os priores vitalícios, desde a sua fundação pelo arcediago Arias, até ao último, D. João Gonçalves, em 1516. Neste espaço de tempo, a 26 de Novembro de 1443, o arcebispo de Braga D. Fernando da Guerra, autorizado pelo Papa Martinho V, extinguiu o Mosteiro de S. Cristovão de Rio Mau, e incorporou-o in perpetuum no de S. Simão da Junqueira.

2. O segundo período vai até 1595, abrangendo os” Commendatários”, sendo D. Diogo Pinheiro o primeiro, com os títulos de Prior de Guimarães, Bispo do Funchal e Prelado de Tomar. Entre outros, foi nomeado, após a morte do primeiro, o seu filho, Pero Gomes Pinheiro, fidalgo e capelão do Cardeal D. Henrique. De salientar que D. Sebastião, em 1578, deu em forma de contrato à congregação de Santa Cruz de Coimbra, o Mosteiro da Junqueira, com reserva para si de cinco partes das rendas, num total das doze existentes, ficando o Mosteiro com um encargo para a Coroa de 180$0000 reis anuais.

3.O terceiro período vai até à sua extinsão pelo Breve de Clemente XIV, de 4 de Julho de 1770. Nesta fase, reinando D. Pedro II, finais do século XVII, avançou a construção do novo templo, dedicado a S. Simão e S. Judas Tadeu.

A 17 de Dezembro de 1772, o Cardeal da Cunha, vende o Mosteiro da Junqueira a Manuel Gomes Rodrigues da Fonseca Oliveira d´Andrade, cavaleiro professo da Ordem de Cristo e Governador do Castelo da Póvoa de Varzim.

De salientar que, nesta altura, a venda verificada, também compreendeu o padroado da Igreja da Junqueira e a Capela de Santa Isabel (não tendo dados precisos, posso, no entanto, considerar que esta capela não é mais que a da Senhora da Graça, eregida em 1713). Também, aquando da venda, o órgão da Igreja da Junqueira foi adquirido pela Misericórdia de Vila do Conde, enquanto que os “cadeiraes” do coro foram parar à Colegiada da Matriz, e as grades do mesmo coro, foram para a Igreja da Lapa.

  À sua morte, o mosteiro passou ao genro de Manuel Gomes d´Andrade, Bento José Rodrigues d´Oliveira Machado, “Morgado de S. Simão”, casado com Ana Eufrásia.

Entretanto, em data não precisa, o Mosteiro passa para as mãos de António Maria Correia d´Abreu e de D. Maria dos Anjos Neves Correia d´Abreu, do Porto.

Em 1923, ou antes, o edifício e cerca do Mosteiro pertence a Dª Rosinda de Castro Rebello de Carvalho, da Casa dos Pereiras, de Lousada, mantendo-se até ao momento na posse dos herdeiros.

A freguesia da Junqueira manteve ao longo da sua existência, uma certa predominância, face às localidades vizinhas.

É evidente que um dos grandes factores para tal hegemonia, ficou a dever-se ao Mosteiro, velhinho dos seus nove séculos. Também o facto de ser uma terra arável e fértil, com muita água no Rio Este a norte e o Rio Ave a sul, contou para um acelerar do progresso.  A fundação do Mosteiro é do séc. XI, pelo arcediago ARIAS. Foi neste Mosteiro, extinto por bula  do Papa Clemente XIV, de 1770, e os seus bens incorporados no convento de Mafra.     

 

Localização
Porto, Vila do Conde, Junqueira

Protecção
Imóvel de Interesse Público, Desp. Fevereiro 1975

Enquadramento
Rural, destacado, flanqueado.

Centrada na planta do edifício em U, a casa apresenta-se reconstruída em redor do antigo claustro do Convento num barroco convencional. O rés-do-chão foi deixado para armazéns e a zona nobre colocada no 1º andar. O conjunto foi concebido como uma sucessão de compartimentos, abrindo para um corredor sobre um antigo claustro, hoje praticamente inexistente. A iluminação é feita por janelas de guilhotina situadas no andar nobre, sendo as do primeiro gradeadas. O acesso é realizado por larga escadaria, de um só lanço, situada na fachada principal. Interior tectos de caixotões, tectos de estuques lavrados, bem como revestimento de azulejo dos séc. 17 e 18. O pavimento apresenta-se lajeado em algumas divisões e em soalho de tábuas corridas noutras, e uma porta de entrada para divisão interior, almofadada, com notável decoração. A entrada original do claustro é hoje o pátio da casa onde se evidencia uma fonte granítica de elaborada composição arquitectónica sendo de realçar a escultura da guia.

Utilização Inicial
Cultual e devocional. Convento da Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho

Época de Construção
Séc. 11

Cronologia
Séc. 11 - Fundação do Mosteiro de S. Simão e S. Judas Tadeu da Junqueira, por D. Areas, Arcediago da Sé de Braga; 1084 - Data do documento que contém a referência autêntica mais antiga do Mosteiro de S. Simão da Junqueira; O documento, uma doação feita por Sugerio Rauco aos seus dois filhos, Mendo Soares e Aldora Soares da Vila Gacim (S.Martinho do Outeiro), com a cláusula de a não poderem alienar se não em favor do dito Mosteiro; foram testemunhas desta doação o Arcediago Areas com os seus clérigos, Paio Dias, cónego, Paio Groso e D. Fafia Guterres; 1136 - a doação que D. Afonso Henriques fez a D. Paio Guterres em 25 de Março, já menciona o Mosteiro de S. Simão; 1181 - D. Afonso Henriques conferiu a Carta de Couto ao Mosteiro da Junqueira; séc. 12 - já existia a paroquia da Junqueira, servindo a Igreja conventual simultaneamente de Igreja paroquial; 1516 - Morte do prior D. João Gonçalves, tendo entrado S. Simão da Junqueira na posse de comendatários, que eram vitalícios e não só clérigos seculares mas até fidalgos leigos, donde resultou, por um lado a ruína do património do Convento, por outro, o relaxamento da observância regular do espírito monástico; 1589 - Provisão enviada ao Arcediago da Sé do Porto, ordenando que em S. Simão da Junqueira houvesse apenas dois religiosos, que deviam sustentar-se à custa da mesa prioral; 1595 - união e incorporação do Mosteiro de S. Simão da Junqueira na Congregação de Santa Cruz de Coimbra; 1687 - edificação da Igreja dedicada a S. Simão e S. Judas Tadeu; 1770 - extinção do convento por Breve de Clemente XIV; séc. 18 - Com a partida dos monges o edifício passou a propriedade particular, sendo usada como casa solarenga.

 

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